A hora e a vez do Corredor Turístico da Costa dos Corais

Por Plínio Guimarães

Um dos maiores desafios dos destinos turísticos é conquistarem um fluxo regular de turistas que garantam à toda a cadeia produtiva do turismo fugir das dificuldades provocadas pela sazonalidade. Nos litorais Sul de Pernambuco e Norte de Alagoas, Porto de Galinhas e Maragogi, respectivamente, já se tornaram destinos consolidados e haviam superado as variações da demanda turística de alta e baixa temporadas.

Ao mesmo tempo em que esses destinos conseguiram manter uma regularidade no fluxo de turistas ao longo do ano, passaram também a colaborar com a criação de fluxo turístico para os outros destinos menos conhecidos e ainda não consolidados. Porto de Galinhas e Maragogi, utilizando a linguagem do Programa de Regionalização do Turismo, do Ministério do Turismo (MTur), tornaram-se destinos indutores do turismo regional. Um processo lento e natural de construção de um grande corredor turístico, benéfico para os dois Estados.

Entretanto, no meio do caminho desse processo, como diria Carlos Drummond de Andrade, tinha uma pedra! A pandemia da Covid-19 pegou todos de surpresa. Tanto os destinos consolidados quanto os que estavam em processo de indução sofreram uma brusca interrupção no fluxo de turistas. De repente, todos os destinos turísticos do Litoral Sul pernambucano e Norte alagoano, inclusive Maragogi e Porto de Galinhas, se nivelaram em uma velha discussão: como conquistar fluxo turístico que garanta o pleno funcionamento da cadeia produtiva do turismo, preservando, direta ou indiretamente, os empregos e a renda de milhares de pessoas.

Há um consenso entre os diversos especialistas nas mais variadas áreas: o mundo não será mais o mesmo depois do surgimento da Covid-19. As relações profissionais e pessoais serão impactadas fortemente pela pandemia. Consequentemente, o sucesso dos negócios estará condicionado a este novo status quo. No turismo não será diferente.

De imediato, já sabemos que além da localização, que sempre foi decisiva na escolha dos clientes do turismo, a segurança pessoal também será um fator primordial para decisão de qual será o próximo destino turístico a ser visitado.

Recentemente, em live promovida pelo Costa dos Corais Convention Bureau, o presidente da Associação Brasileira das Empresas Aéreas (ABEAR), Eduardo Sanovicz, falando sobre as alternativas para a conquista de um novo e regular fluxo de turistas no pós-pandemia, afirmou que a primeira grande fatia de turistas a ser conquistada é aquela que se encontra, no máximo, a duas horas e meia de carro ou de avião do destino turístico.

Segundo Sanovicz, os turistas se sentirão muito mais seguros sabendo que em casos de emergência, voltarão com facilidade para sua residência, ou seja, para a sua zona de conforto.

Live promovida pelo Costa dos Corais CVB para debater Malha Área e Turismo

Além destes turistas, que Sanovicz classifica como doméstico, pois já viajam com regularidade em seus próprios veículos dentro de um raio de até 200 km de sua residência, há ainda uma outra fatia de mercado, entre um 1,8 e 2,2 milhões de passageiros, que viajavam regularmente para o exterior e que poderão ser captados para reforçar o turismo interno, desde que haja destinos de qualidade e a garantia de segurança para esses turistas e suas famílias.

“Nesse momento, o grosso do nosso público está em dois pontos. Primeiro, o público que está em uma distância de voo ou de carro de até duas horas e meia, pouco mais ou pouco menos. Porque esse é o limite físico que as pessoas têm para ir, e caso não se sintam seguros ou caso haja algum problema, voltarem no mesmo dia. O segundo público é um público de longa distância, que representa três quartos dos brasileiros que nos últimos anos viajaram para fora, de ticket médio alto, que o impacto da crise econômica sobre ele é de menor escala, representa um número que gira em torno de 1,8 a 2,2 milhões de passageiros, de pessoas individuais que daria para lotar todos os hotéis do Rio de Janeiro a Belém”, observou Eduardo Sanovicz.

Eduardo Sanovicz, presidente da ABEAR

Os pontos apresentados por ele reforçam a importância da formação de corredores turísticos como alternativas para a retomada mais rápida e consistente do turismo no pós-pandemia. E é nesse aspecto que os litorais sul de Pernambuco e norte de Alagoas podem sair na frente no processo de retomada da atividade turística no Brasil.

A região da Costa dos Corais já tem um bom caminho andado desde a década de 1990, quando os empresários de Porto de Galinhas se associaram para se fortalecerem e encontrarem soluções para os seus problemas comuns, especialmente os relacionados aos impactos da sazonalidade.

Os primeiros resultados positivos obtidos pela a Associação dos Hotéis de Porto de Galinhas (AHPG) foram fundamentais para estimular os empresários de Maragogi e Japaratinga a também se organizarem e constituírem a Associação dos Hotéis e Pousadas de Maragogi e Japaratinga (Ahmaja), hoje transformada no Costa dos Corais Convention & Visitors Bureau (CCC&VB).

Nestes quase 30 anos de desenvolvimento do turismo no litoral Sul pernambucano e Norte alagoano muita coisa avançou e outros destinos foram se espelhando em Maragogi e Porto de Galinhas. Agreguem-se às iniciativas privadas diversas ações do poder público que ajudaram a ampliar o elo entre os dois litorais, como, por exemplo, a criação, em 1997, da APA Costa dos Corais, com seus 120 km de extensão de Tamandaré até o norte de Maceió.

As discussões em torno da oficialização de algo que naturalmente já está se consolidando, o corredor turístico da Costa dos Corais, já se encontram bastante avançadas e tiveram início no ano passado, quando representantes de São José da Coroa Grande e Maragogi se reuniram com o Secretário de Turismo e Lazer de Pernambuco, Rodrigo Novaes, para tratar do fortalecimento da parceria entre esses dois destinos turísticos dos litorais sul pernambucano e norte alagoano.

Reunião de representantes de São José da Coroa Grande e Maragogi com o Secretário de Turismo e Lazer de Pernambuco, em agosto de 2019

Entretanto, consolidar um corredor turístico não é uma tarefa fácil e nem apenas fruto de uma decisão política. A consolidação de um corredor turístico é fruto de um longo processo mesclado de naturalidade e planejamento.

Até recentemente, o corredor turístico da Costa dos Corais vinha sendo construído naturalmente em decorrência do desenvolvimento dos destinos indutores Porto de Galinha e Maragogi. A chegada da pandemia impôs uma necessidade de aceleração nesse processo de consolidação do corredor turístico da Costa dos Corais.

Destinos internacionalmente conhecidos, como França, Reino Unido, Grécia, Nova Zelândia e Austrália, também sofrem com os efeitos devastadores da pandemia. Todavia, já arquitetam a retomada da atividade a partir do conceito dos corredores turísticos, ou bolhas de viagens.  

Contudo, conforme preceitua Professor Mário Beni, um corredor, ou cluster, turístico necessita de um plano estratégico e de uma estrutura de gestão com a participação da iniciativa privada e do setor público e que crie compromissos permanentes, atendendo às expectativas dos turistas ao disponibilizar elementos como aeroporto, translado, estética do entorno, equipamentos receptivos, gastronomia, hospitalidade da comunidade receptora, informação e sinalização dos atrativos, centros comerciais, serviços de assistência em geral e preços competitivos.

Quase todos esses elementos já estão disponíveis na região da Costa do Corais. Portanto, que as nossas “retinas tão fatigadas” não nos impeçam de superar a pedra que há no meio do caminho.

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