Por Plínio Guimarães
Uma ação muito importante para todas as empresas do segmento turístico, especialmente os grandes grupos hoteleiros, foi a edição da MP 936, que introduziu o benefício emergencial de preservação do emprego e da renda, a redução da jornada, a suspensão do contrato de trabalho, o auxílio emergencial mensal ao trabalhador intermitente e a possibilidade de acordos coletivos.
Outras ações também adotadas pelo Governo Federal que beneficiaram o setor turístico em meio à pandemia do novo coronavírus (Covid-19) foram: a injeção de liquidez no mercado, a postergação no pagamento de impostos, a adequação da lei de proteção ao consumidor e a flexibilização do contrato de trabalho.
Entretanto, os representantes das grandes redes hoteleiras se queixam da falta de agilidade e de organização na implementação destas medidas.
“As medidas de modo geral elas vieram e foram abrangentes, profundas. A crítica que eu tenho em nome da Atlantica, primeiro: elas foram lentas, elas demoraram para sair. As medidas que saíram, o Governo reagiu duas, três semanas depois que a pandemia já estava se acelerando. Então, nós perdemos o mês de abril para muitas medidas que só foram editadas no mês de abril”, avaliou o CEO da Atlantica Hotels, Eduardo Giestas.

“Houve vários problemas de operacionalização, a própria MP 936 largou toda errada, até voltar e ser reeditada. Foi uma lambança total na sua largada. A gente viu que todo crédito, toda liquidez injetada no mercado ela ficou empoçada, não foi acessada. O valor que está reservado para folha de pagamento, só 5% ou 7% foi acessado. Tem muita insegurança jurídica, porque você tem MP, Decreto, depois você tem um acordo coletivo,” acrescentou.
Expectativa
No momento, a expectativa dos representantes das redes hoteleiras é de que haja a prorrogação da MP 936, garantindo às empresas a possibilidade de manter a suspensão de contratos de trabalho e redução da jornada de trabalho pelo menos até o final do ano.
Por meio do G8 (grupo criado pelo FOHB, para saber mais clique aqui), as redes ainda pretendem reivindicar junto ao Governo Federal outros benefícios que possam atenuar os prejuízos até a retomada definitiva da atividade turística.
Para o Presidente do FOHB, Orlando de Souza, é necessário envidar esforços na desoneração da folha de pagamento, redução da carga tributária por três ou quatro anos, e, por fim, garantir um REFIS para os impostos, tributos e contribuições que tiveram o pagamento suspenso.
O prolongamento da crise pandêmica no Brasil também é outro problema que preocupa as grandes redes hoteleiras. A forma como a pandemia foi conduzida no Brasil, para os CEOs, está fazendo com que no país o desenrolar da crise seja diferente dos outros países com mercados turísticos parecidos com o brasileiro, como, por exemplo, Austrália e Nova Zelândia.
Nestes, cerca de 75% a 85% do mercado é doméstico e que também possuem capacidade de captar para o turismo interno clientes que antes da pandemia viajavam para outros países.

“No Brasil a questão foi diferente, houve uma dificuldade da autoridade federal de organizar a questão sanitária. Temos um Ministro do Turismo atuante, focado, vocacionado, mas isso não significa que ele tenha toda força que ele deveria ou que a gente gostaria que ele tivesse junto ao Governo Federal como um todo. Eu acho que houve um tratamento muito ruim da questão sanitária. Estados, prefeituras e Governo Federal cada um falando para um lado. Isso talvez seja o responsável pela nossa mais longa curva, nossa curva vai ser mais longa, vai demorar mais a passar”, acredita o CEO da Hplus Hotelaria, Otto Sarkis.
Futuro
Para Patrick Mendes, CEO da ACCOR, os atores da hotelaria vão ter que se unir às companhias aéreas, agências de viagens, trade e imprensa para estimular o turismo interno, seguindo o exemplo do que vem sendo feito na Austrália, China e Nova Zelândia, que já estão obtendo elevado crescimento na taxa de ocupação dos hotéis.
Na verdade, essa união pregada por Mendes já vem sendo articulada por outros atores do turismo nacional, como foi observado em recente matéria sobre o Corredor Turístico da Costa dos Corais.
“A Nova Zelândia fechou o mês de maio com taxa de ocupação de 45%. Abrimos todos os nossos hotéis. A China fechou o mês passado com 43% a 44% de taxa de ocupação, a Austrália com 35%. Cem por cento desses três países é (público) doméstico. É um volume que está voltando com preços bons, sem queda. É fundamental essa lição que podemos tirar desses três mercados, que são parecidos com o mercado brasileiro. Nós vamos ter que nos unir: atores hoteleiros, companhias aéreas, agências de viagens, trade e imprensa para realmente estimular de maneira muito forte o turismo interno”, citou Mendes.
Ainda para ele, a inovação será outro fator determinante daqui para frente. Será necessária muita criatividade para se encontrar outras maneiras de utilização dos hotéis. Para ele, durante muito tempo a hotelaria inovou muito pouco na oferta de serviços dentro das suas unidades.

“Nós temos que pensar em outras maneiras de utilizar os nossos hotéis. Como poderemos utilizar esses quartos vazios? Tem essa questão do home office, que é essa transformação do quarto que todos nós já estamos fazendo agora. Tem outras opções, talvez. Temos que pensar de uma maneira mais inovadora para os nossos investidores e os nossos parceiros que investiram em nossos hotéis e que vão ser prejudicados durante 15 a 18 meses, no mínimo. Como podemos utilizar de maneira diferente os nossos hotéis é outra coisa que me anima nesse momento, que me faz trabalhar nesse momento”, acrescentou.
Contudo, não basta inovar na utilização de forma criativa das instalações das unidades hoteleiras. Estabelecer um novo break even point para a hotelaria em um “novo normal” será mais um desafio a ser enfrentado pelos gestores hoteleiros. Como conciliar o aumento de despesas provocados pela necessidade de implementar novos protocolos sanitários e a queda nas receitas provocadas pela pandemia?
A solução a ser adotada pela ACCOR Hotels, segundo Patrick Mendes, passará pela contratação de colaboradores mais polivalentes, mais completos e mais competentes, e pela transformação de um hotel rentável nos segmentos econômico e midscale com um break even point de 20% de ocupação, e no segmento premium com um break even point de 30%.