Conheci Dirceu Lindoso em 2004. Recém-chegado a Maragogi, onde trabalhava como repórter da Sucursal Costa dos Corais, do extinto O Jornal, bati à porta do historiador com um patacão cunhado em alusão a D. João VI, achado numa das duas botijas encontradas por populares naquele ano, nas ruas da cidade.
Levava na mão a moeda antiga – um achado da época do Brasil Reino Unido – e na cabeça, um baú repleto de dúvidas e curiosidades, que só o velho antropólogo poderia responder e desvendar, numa época em que a internet ainda não havia se popularizado e funcionava precariamente em Maragogi, com aquele som característico que saía das entranhas da linha telefônica.
Lembro que minha primeira matéria sobre as botijas saiu em O Jornal sem as fotos porque a internet discada não permitia o carregamento das imagens captadas digitalmente na minha “potente” OLYMPUS de um 1.3 megapixels. Em uma dessas imagens que fiz, Lindoso segurava o patacão.

Quando lhe entreguei a relíquia para análise, colocou os óculos e abriu um sorriso reluzente, como uma criança que ganha um brinquedo. Ali estava um fragmento vivo da história que ele tão bem conhecia e maravilhosamente relatava em seus livros.
“Maragogi era uma região onde existiam muitos comerciantes. Como não havia banco e o centro era Porto Calvo, essas pessoas tinham o hábito de esconder suas economias, enterradas”, explicou-me.
Depois daquela entrevista, mantive Lindoso como fonte obrigatória quando o assunto era Alagoas Pars Borealis, designação com que a ciência historiográfica flamengo-colonial se referia à região entre as terras baixas do Vale do Una ao Vale de Santo Antônio Grande.
Mesmo morando em Maceió, o maragogiense me atendia pelo telefone. Quando não era possível ouvir sua voz mansa e compassada, corria os olhos pelas páginas de Formação de Alagoas Boreal (Catavento, 2000), uma de suas mais importantes obras e que narra com riqueza de detalhes o surgimento dos primeiros núcleos de povoamento de nosso estado.
No livro, Lindoso sugere: para conhecer uma das linhas de colonização de Alagoas é importante uma subida do Rio Manguaba, a partir de Porto de Pedras, até o Varadouro, em Porto Calvo, ao Norte do Estado. Segui o conselho do mestre e fiz a viagem, que rendeu uma das reportagens mais prazerosas que já escrevi: Rio Manguaba, no leito da história.
Falecimento
Lindoso nos deixou na madrugada desta terça-feira (15). Faleceu no Hospital Geral do Estado (HGE), em Maceió, aos 87 anos. Ele estava internado desde a quarta-feira (9) com rebaixamento do nível de consciência e histórico de microangiopatia cerebral.
Com um aneurisma extenso, foi levado para a Unidade de Terapia Intensiva (UTI), onde permaneceu entubado sob os cuidados da equipe multidisciplinar, mas não resistiu.
O velório acontece na Casa Jorge de Lima, sede da Academia Alagoana de Letras, na Praça Sinimbu, e o sepultamento ocorrerá às 10 horas desta quarta-feira (16), no Cemitério da Piedade.
Lamento o falecimento do Historiador Dirceu Lindoso. Sinto bastante por não ter tido uma oportunidade de conversar com ele. Lamento, profundamente, mas o seu legado para a nossa História, é riquíssimo!
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