
Um dos mais controvertidos personagens da História do Brasil, Domingos Fernandes Calabar será levado a julgamento neste domingo, 22 de julho, em Porto Calvo, região Norte de Alagoas. Mais do que uma apresentação promovida pela Secretaria Municipal de Cultura, o ato cenográfico tem um valor simbólico muito importante.
Embora acredite que Calabar será absolvido neste domingo (22), sobretudo pelo seu ato de coragem e até de sagacidade ao optar pelos holandeses em detrimento do julgo português, episódios recentes – outros nem tanto assim – demonstram que a história do agora herói e de todos os fatos que envolveram a movimentação e ocupação holandesa / ibérica do território alagoano de Porto Calvo foram, durante muito tempo, condenados ao esquecimento e até ao vilipêndio.
Prova disso foram os atos de vandalismo ao Memorial Calabar, praticados em 2014, dois anos após a instalação das esculturas feitas pelo município para reverenciar o “mártir” e resgatar a história de fundação da freguesia mais antiga de Alagoas.
Construída em 1610 pelos portugueses e tombada pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) em 1955, a Igreja Matriz de Nossa Senhora da Apresentação sofreu diversas descaracterizações ao longo do tempo.
A estrutura também foi alvo dos vândalos em 2015. As paredes foram pichadas. A Matriz era a única referência arquitetônica que restara do período colonial na terra de Calabar até a descoberta, em 2015, do fortim de terra holandês da Ilha do Guedes, identificado e restaurado por meio de pesquisa arqueológica promovida pelo Iphan.
A ausência de uma política de educação patrimonial, entretanto, afetou e ainda afeta achados arqueológicos no grande sítio que é Porto Calvo. Intervenções urbanas feitas por moradores e até pelo poder público já destruíram relíquias de valor histórico inestimável.
Em 2016, uma máquina patrol que fazia o nivelamento de uma obra viária, executada à época pela prefeitura no bairro do Varadouro, deixou à mostra as estruturas em arco de uma construção antiga – provavelmente do século 17.
Os serviços foram suspensos, a obra embargada, mas o povo avançou sobre a construção, munido de pás e enxadas em busca de botijas: tesouros antigos que ainda aguçam o imaginário popular naquela região.
Moedas antigas, balas de canhão, espadas, urnas funerárias, machados indígenas, utensílios, dentre outras relíquias já foram encontrados em diversas áreas do solo da histórica cidade.
Uma pequena mostra dessa riqueza arqueológica pode, ainda, ser vista no Espaço Cultural Guedes de Miranda, na rua homônima, número 25, Centro da cidade, mas, infelizmente, muita coisa se perdeu pelo ralo da ignorância e da usura.
Não obstante, Porto Calvo se ressente de não usufruir economicamente do fluxo turístico da Costa dos Corais, embora esteja encravado na região que mais atrai visitantes em Alagoas, atrás apenas da capital Maceió. O turismo histórico, então, poderia ser a redenção do lugar.
É importante lembrar que Calabar foi preso e executado sumariamente por determinação de Matias de Albuquerque, governador da Capitania de Pernambuco. Ele teve uma morte violenta: foi estrangulado por meio de garroteamento e em seguida esquartejado. Partes do corpo foram espalhadas pela Vila e a cabeça, fincada na paliçada do Alto da Força (ou da Forca, como queiram).
Neste domingo (22), Calabar será submetido, enfim, a um julgamento e, desta feita, com direito à defesa. Espera-se a absolvição do herói nacional, o resgate, a perpetuação de sua história e de todos os fatos a ela relacionados. Porto Calvo também terá uma nova chance.
Como sempre,o nosso amigo e Jornalista Severino Carvalho,resgatando com suas reportagens a História de Porto Calvo. Parabéns e meu abraço amigo!
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Que interessante! Hoje visitamos a cidade, as estatuas de Calabar e a igreja Matriz. Muito rica em beleza e historia a cidade e regiao! Adoraria de saber mais!
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