
Sete baleias já encalharam na costa alagoana este ano, a última delas – uma Jubarte – na segunda-feira (04), na foz do Rio Niquim, Barra de São Miguel. O animal não resistiu e morreu.
Só na Área de Proteção Ambiental (APA) Costa dos Corais, Litoral Norte do estado, foram cinco encalhes ocorridos em Maragogi (1), Japaratinga (2), São Miguel dos Milagres (1) e Passo de Camaragibe (1).
Mas, o que estaria provocando os encalhes? Para o chefe da APA Costa dos Corais, o analista ambiental Iran Normande, as ocorrências possivelmente estão relacionadas ao aumento populacional desses mamíferos colossais.
“Quanto mais animais, mais encalhes – fazendo com que eles se aproximem mais da costa. Fenômenos como El Niño também podem contribuir para este aumento do número de encalhes”, observou Normande.
De acordo com ele, foram coletados materiais para análise. “Mas como todos foram (na APA) filhotes de jubarte nascidos nesta temporada reprodutiva, possivelmente está relacionado ao aumento populacional desta espécie em águas brasileiras”, acrescentou o analista ambiental.
Histórico

Em 2014, escrevi uma reportagem para a GazetaWebMaragogi acerca dessas ocorrências, o que só reforça que os encalhes não são um fenômeno recente. Justamente entre julho e agosto daquele, três baleias haviam encalhado mortas no Litoral Norte de Alagoas, na costa marítima dos municípios de São Miguel dos Milagres, Maragogi e Japaratinga.
Foram duas jubartes (Megaptera novaeangliae) e um cachalote (Physeter macrocephalus). À época, ouvi especialistas para saber por que num período tão curto ocorreram esses encalhes na mesma região, dentro da APA Costa dos Corais, maior unidade de conservação marinha do país.
A veterinária Adriana Colosio, pesquisadora do Programa de Resgate do Instituto Baleia Jubarte (IBJ), com sede no município de Caravelas, Sul da Bahia, afirmou ser comum em agosto (em 2017 a maioria ocorreu neste mês) o encalhe de indivíduos desta espécie, quando aumenta a concentração desses animais na costa brasileira, saídos do continente antártico. Eles chegam em busca de águas quentes para se reproduzir.
“Ao longo dos anos, o número de encalhes tem aumentado gradativamente, devido ao crescimento populacional da baleia jubarte. Portanto, é considerado normal esse aumento de encalhes”, afirmou a veterinária. De acordo com dados do IBJ, acontece anualmente uma média de 36 encalhes de baleias da espécie jubarte na costa brasileira.
Em 2010, entretanto, o número de ocorrências com óbitos se elevou para 96. Naquele ano, em Alagoas, foram registrados dois encalhes: um na praia de Ponta de Mangue, em Maragogi, e outro na de Morros do Camaragibe, em Passo do Camaragibe, Litoral Norte do Estado.
A jubarte saiu da lista de espécies ameaçadas de extinção, a população aumentou, mas as ameaças também cresceram quase que na mesma proporção, conforme o uso da área marinha, relacionado às interações humanas e à presença dessas animais no mesmo local.
“A saída da jubarte da lista de animais ameaçados de extinção é devido há mais de 10 anos de pesquisa do IBJ e de várias outras instituições que contribuíram pra melhorar as condições de sobrevivência desta espécie. Mas, isso não quer dizer que a população de jubarte não está em perigo”, alertou.
São várias as causas de mortalidade de baleias, desde as naturais (doenças), velhice ou por fatores antrópicos: emalhe em redes de pesca, colisão com embarcações, variações climáticas, contaminação por metais pesados ou hidrocarbonetos. Marcas deixadas nos cadáveres dos animais também podem evidenciar a causa da morte.
A ameaça dos navios

Embora não se possa afirmar que as baleias que encalharam sem vida no Litoral Norte de Alagoas morreram atingidas por grandes embarcações, esse é um fator preocupante, não só nestas águas.
Dados divulgados pelas Nações Unidas revelam que o tráfego de navios de cabotagem provocado pelo comércio marítimo mundial cresceu 80% nas últimas duas décadas. Segundo a Organização Marítima Internacional, 90% do comércio global é feito através do mar.
Embora não existam estudos sobre os impactos causados às baleias, todo esse movimento de grandes embarcações torna-se um perigo em potencial às espécies que habitam os mares, inclusive no Atlântico Sul.
O aumento do fluxo de navios entre os portos de Suape (PE) e de Maceió também é uma ameaça aos mamíferos. Estima-se que mais de 20 embarcações cruzem a Área de Proteção Ambiental (APA) Costa dos Corais por mês.
“A colisão com navios cargueiros pode ser uma das causas, mas para afirmar isso, seria necessário examinar os animais que encalharam. Entretanto, a colisão com embarcações é uma, dentre as várias causas de mortalidade que podem afetar esses animais”, ponderou a veterinária.
Serviço
Em caso de encalhe, contactar:
Instituto Baleia Jubarte: (+55 71) 3676-1463 / (+55 73) 3297-1340
Base avançada do CMA, Porto de Pedras: (82) 3298-1388