Compartilho, com os leitores do blog, reportagem que escrevi para as páginas da Gazeta de Alagoas, edição do dia 21.
Boa leitura!

Em meados de 2013, uma empresa contratada pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) concluiu a pesquisa arqueológica emergencial das ruínas da Igreja (Mosteiro) de São Bento, no distrito homônimo, em Maragogi, Litoral Norte de Alagoas.
O trabalho apontou como necessidade urgente a execução de ações voltadas à consolidação (preservação) do que restou.
O objetivo era dotar a área de uma estrutura que permitiria a visitação turística, através da instalação de passarelas. O projeto foi orçado em R$ 311.293,96, mas os recursos ainda não estão garantidos. Prevê, dentre outras ações, o escoramento das ruínas, a reabertura de vãos originais, a limpeza das estruturas e a consolidação das bases e das alvenarias.
Três anos se passaram desde a conclusão do trabalho de pesquisa e o projeto, porém, não saiu do papel. Enquanto isso, o Sítio Arqueológico e Histórico da Igreja de São Bento sofre com a ação do tempo e as intervenções humanas.
Uma placa instalada pelo Iphan, em frente às ruínas, alerta que a retirada ou remoção de terra daquele local constitui crime sujeito a penalidades de multa e detenção. Mas, a Gazeta constatou que sepultamentos continuaram a ser realizados junto às ruínas, dentro do sítio arqueológico.
Ao menos duas covas recentes foram abertas e preenchidas. Uma terceira apresenta uma cruz com a datação do sepultamento: 01/09/2015, dois anos após o Iphan identificar o sítio arqueológico, que jaz, moribundo.
Os enterros voltaram a acontecer na área do Mosteiro porque o Cemitério de São Bento encontra-se superlotado. Sepulturas mais antigas dentro da área do sítio arqueológico foram violadas e expõem ossadas e outros restos humanos.
As ruínas do Mosteiro de São Bento sofreram, ao longo dos anos, com a ação de “caçadores de tesouros”, após o surgimento, em 2004, de duas botijas nas ruas centrais de Maragogi.
As antigas paredes do prédio em ruínas foram escavadas, afetando ainda mais a já combalida estrutura daquele patrimônio histórico, que mistura religiosidade, cultura e reafirmação social de toda uma comunidade.
“O Mosteiro faz parte de nossa história. É o que restou de uma das paróquias mais antigas de Alagoas”, disse Raimundo Francisco, coordenador do Terço dos Homens de São Bento.
Estudo

De acordo com o estudo feito pelo Iphan, a Igreja / Mosteiro de São Bento foi construída no século 17. O primeiro registro de que se tem notícia da edificação data de 1643, em mapa produzido por Georg Marcgraf, cartógrafo e pintor alemão.
A Igreja foi elevada à condição de Paróquia em 1718, permanecendo assim até 1875, quando aconteceu a emancipação política de Maragogi. A antiga Igreja de São Bento, no alto do morro, sempre foi uma referência para a comunidade.
Ali aconteciam festas e cultos a diversos santos católicos. Na década de 1970, uma nova igreja foi construída mais próxima do litoral, onde hoje fica o centro do distrito.
Começava, assim, o processo de abandono e destruição do antigo templo, no alto do morro, de onde se tem uma das mais belas paisagens do litoral de Maragogi. O local ainda é visitado por turistas, apesar da total ausência de infraestrutura.
A estrada de acesso é de barro e cheia de pedregulhos. No inverno, as chuvas deixam o trecho quase que intransitável. O lixo se acumula pela passagem.
“A prefeitura colocou um caixa de ferro grande (contêiner), mas depois tirou. O lixo fica jogado e o fedor é grande. Tem dia que a gente não aguenta nem mesmo ficar dentro de casa”, contou a moradora Maria de Fátima da Silva, 55 anos.
A iluminação pública também é precária. “A noite, é uma escuridão só. A lâmpada do poste queimou há mais de dois meses”, reclama o morador José João da Silva, 55.
Arcebispo

O arcebispo de Maceió, Dom Antônio Muniz Fernandes, esteve no distrito de São Bento, em Maragogi, no dia 21 de setembro. Ele celebrou a missa de abertura do tríduo de Nossa Senhora das Dores.
A comunidade esteve em festa durante três dias para comemorar a reconstrução da Igreja de Nossa Senhora das Dores, erigida por meio por meio de doações da comunidade, dos dízimos recebidos e com a mão de obra dos que integram o Terço dos Homens.
Para a Igreja, localizada perto da praia, foram levadas, ainda na década de 1970, as imagens de Nossa Senhora das Dores, de São Miguel Arcanjo e de São Bento. A primeira foi completamente restaurada e devolvida à comunidade durante as festividades.
As outras duas imagens serão restauradas e só voltarão a São Bento quando o projeto de consolidação das ruínas do Mosteiro e a construção de um anfiteatro e de um espaço para celebrações estiverem prontos, lá em cima, no morro. É o que afirma Dom Muniz.
“O trabalho histórico foi feito, o trabalho cartorial também já foi feito. Já se sabe o que pertence ao próprio Mosteiro. As obras irregulares que tentaram fazer lá em cima foram embargadas. Falta agora executar o projeto. Falta que o Iphan diga: aqui está o recurso da União para se aplicar. O escoramento das ruínas ainda não foi realizado, porque não há recurso. O primeiro recurso foi usado na prospecção arqueológica”, disse o arcebispo.
Ele explicou que o Mosteiro de São Bento funcionava como uma espécie de base de apoio aos frades beneditinos que circulavam entre Pernambuco e Alagoas, em suas missões, no século 18.
“A primeira paróquia em território alagoano foi erguida em Porto Calvo, em 1610, aqui pertinho. Essa estrutura (onde ficam as ruínas) foi criada justamente para se chegar a Porto Calvo e a Paripueira, uma espécie de parada para o descanso”.
O superintendente em Alagoas do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), o arquiteto Mário Aloísio, informou que os recursos para a execução do projeto de consolidação das ruínas do Mosteiro de São Bento serão provenientes de uma compensação, por dano a sítio arqueológico, durante obra de construção de uma estrada estadual em Alagoas.

O compromisso foi firmado por meio da assinatura de um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC), que teve como signatários o Iphan, a empresa que causou o dano e o governo do Estado, informou.
“O TAC já foi feito. Vamos propor uma reunião com todos os órgãos envolvidos e cobrar a execução do que foi acordado”, disse Mário Aloísio.
Já o secretário municipal de Infraestrutura de Maragogi, Rildson Aquino, garantiu que os sepultamentos não mais estão sendo feitos na área do Mosteiro. A prefeitura proibiu os enterros, após solicitação feita por Dom Muniz.
Rildson reconhece que o Cemitério de São Bento está superlotado e que o espaço precisa ser ampliado. “Já temos área disponível. Mas, como estamos em fim de mandato, não sabemos ainda se faremos a obra ou se deixaremos para a próxima gestão”, declarou Sinho, como é conhecido o secretário de Infraestrutura.