
A presidente do Costa dos Corais Convention & Visitors Bureau (CCC&VB), Vergínia Stodolni, chamou de “tragédia anunciada” o apagão que deixou sem energia elétrica, por quase 20 horas, os municípios de Maragogi, Japaratinga e Porto Calvo, entre o primeiro e o segundo dia de 2016.
O blecaute afetou em cheio a economia desses municípios da região Norte do Estado, sobretudo de Maragogi e de Japaratinga, que vivem do turismo. O apagão gerou transtornos aos hóspedes e prejuízos à rede hoteleira e ao comércio de forma geral.
Ao tratar o apagão como tragédia anunciada, a presidente do CCC&VB quis se referir à falta de investimentos e à precariedade do sistema energético que atende o Litoral Norte de Alagoas, o que poderia ocasionar um apagão com consequências devastadoras para o destino turístico da Costa dos Corais, como, de fato, aconteceu na semana passada. O problema é de conhecimento geral das autoridades do Estado, sobretudo, da Eletrobras. E não é de hoje…
Sabendo das carências estruturais, o trade turístico já se reuniu inúmeras vezes com representantes da Eletrobras Distribuição Alagoas – desde o tempo em que se chamava Companhia Energética de Alagoas (Ceal).
Em todos os encontros, o CCC&VB cobrou melhorias e ouviu promessas como respostas. As interrupções no fornecimento de energia sempre voltam a acontecer e em períodos cada vez maiores. As oscilações de tensão também são uma constante, danificando equipamentos eletroeletrônicos.
Na edição de 2 de agosto de 2015, a Gazeta de Alagoas mostrou, em reportagem especial, assinado por este jornalista, um panorama da triste realidade por que passa a região Norte do Estado. Entenda os motivos pelos quais a presidente do CCC&VB chamou o apagão de “tragédia anunciada” e porque a região Norte encontra-se por um fio.
A região Norte de Alagoas por um fio
Entre os dias 7 e 8 de julho, sete municípios da região Norte do Estado sofreram com a interrupção no fornecimento de energia elétrica. Em grande parte dessas localidades, o sistema foi restabelecido duas horas depois, mas, em outras, o apagão chegou a durar mais de 20 horas, causando transtornos aos moradores e prejuízos financeiros ao comércio e ao setor turístico, principal atividade econômica da Costa dos Corais, segundo maior polo hoteleiro de Alagoas.
“Foi um dos períodos mais longos sem energia elétrica na região. Teve casa no distrito de Barra Grande (Maragogi) em que a luz só voltou quase 24 horas depois”, recordou a presidente do Costa dos Corais Convention & Visitors Bureau (CCC&VB), Vergínia Stodolni. A entidade reúne empresários do setor hoteleiro de Maragogi e Japaratinga.
Em Maragogi, o blecaute atingiu sobretudo os distritos de Peroba e de Barra Grande, onde fica concentrada grande parte dos hotéis e pousadas do município. Segundo a Eletrobras Distribuição Alagoas, a interrupção no fornecimento foi causada pelo rompimento da rede de distribuição de alta tensão que sai da subestação de Rio Largo e alimenta toda a região Norte do Estado.
A ocorrência foi registrada no trecho localizado no povoado Lagoa Vermelha, zona rural de São Luís do Quitunde. O local é de mata fechada e dificultou o acesso das equipes de reparo. A interrupção atingiu os municípios de Jacuípe, Maragogi, Japaratinga, Porto Calvo, Porto de Pedras, Matriz do Camaragibe e Barra de Santo Antônio.
O problema, porém, poderia ter sido contornado com maior brevidade se houvesse uma rede de distribuição extra, o que possibilitaria o remanejamento de cargas elétricas, mantendo a região acesa.
“Na verdade, estamos por um fio. Quando a linha que liga a subestação de Rio Largo à região Norte cai, ficamos no escuro. Ela sozinha não sustenta. O ideal seria uma rede alternativa para fazer o remanejamento e isso já foi discutido com a Eletrobras há mais de um ano. Mas, pelo que se sabe, nada foi feito”, recordou Vergínia.
Naquela noite, a pousada do empresário João Nogueira, localizada em Japaratinga, perdeu clientes por causa do apagão. “Houve três desistências de hóspedes que chegaram à pousada justamente no momento em que não havia energia elétrica. Eles foram embora”, lamentou Nogueira, cujo estabelecimento permaneceu por cerca de 10 horas sem energia elétrica.
Investimentos
A presidente do CCC&VB, Vergínia Stodolni, cobra a aplicação de R$ 59,2 milhões em obras estruturantes no setor energético que beneficiariam diretamente a região Norte do Estado. O anúncio dos investimentos foi feito no dia 28 de outubro de 2013 pelos diretores da Eletrobras Distribuição Alagoas, em reunião com o setor hoteleiro, no auditório do Hotel Praia Dourada, em Maragogi.
Naquela oportunidade, foram anunciados a construção de uma subestação em Paripueira e o início da duplicação das linhas de transmissão que alimentam todo o Litoral Norte.
“O que existe, hoje, é um circuito simples, ou seja, apenas uma linha. Então, na saída de um desses trechos, há interrupção total de energia na região Norte porque não temos como fazer um remanejamento de carga. Com a duplicação, ficaremos com uma segunda opção”, explicou, naquela oportunidade, o diretor de Operação da Eletrobras Distribuição Alagoas, Vladimir de Abreu.
De acordo com o projeto, o primeiro trecho a ser duplicado compreenderia os municípios de Rio Largo (ponto de entrega da Chesf) a Paripueira, passando por São Luís do Quitunde até Matriz do Camaragibe. A ideia seria de duplicar toda a linha até Maragogi.
Além de empresários do setor hoteleiro de Japaratinga e de Maragogi, a reunião contou com as presenças do prefeito deste município, Henrique Peixoto (PSD), do então deputado federal e, hoje, governador do Estado, Renan Filho (PMDB), e diretores da Chesf.
“A gente até entende as dificuldades do setor enérgico brasileiro, mas parece que as autoridades não perceberam que o turismo é muito importante para Alagoas e que sem infraestrutura fica difícil trabalhar. Acabamos por perder clientes para outros Estados, então temos que cobrar para ver se acontece algum avanço”, justificou o hoteleiro João Nogueira, um dos diretores do CCC&VB.
Crescimento

A presidente da instituição também demonstrou preocupação diante do crescimento do setor hoteleiro no Litoral Norte de Alagoas e a necessidade de investimentos que garantam a qualidade no fornecimento de energia elétrica aos novos e atuais empreendimentos.
De Paripueira a Maragogi, segundo Vergínia Stodolni, existem mais de 150 estabelecimentos hoteleiros instalados.
“Energia elétrica é uma necessidade primária da hotelaria. A postura do trade sempre foi de compreensão, mas a tendência é que a situação se agrave porque o segmento está em expansão. Teremos, em breve, um novo resort em Japaratinga e, a cada dia, novas pousadas se instalam na região”, ponderou Vergínia.
A presidente do CCC&VB lembrou, ainda, que o setor hoteleiro é um dos grandes clientes da Eletrobras. Ela cita o caso do maior resort de Maragogi, com 236 unidades habitacionais. O estabelecimento paga, mensalmente, cerca R$ 140 mil à concessionária pelo consumo de energia elétrica.
A conta em 2015 deve chegar perto dos R$ 2 milhões de reais, R$ 900 mil a mais em comparação ao consumo verificado em 2014, resultado do aumento das tarifas de energia elétrica, revelou o gerente do resort, Ricardo Almeida.
“Isso (alto faturamento) por si só já seria um argumento para que a Eletrobras tivesse uma atenção maior com a nossa região”, cobrou Vergínia.
Geradores
O uso de geradores a diesel de energia elétrica era uma prática apenas dos grandes hotéis. O alto custo desses equipamentos inviabilizava a aquisição pelos pequenos e médios meios de hospedagem. Essa realidade, entretanto, vem mudando em razão das constantes oscilações e interrupções no fornecimento de energia elétrica na região Norte de Alagoas.
Logo que inaugurou a pousada, em 2005, Tarsilla Rodrigues não possuía gerador em seu estabelecimento. Em 2007, cansada de perder clientes e de ouvir reclamações por causa da instabilidade do sistema da Eletrobras, resolveu fazer um empréstimo e comprou um gerador de 75 KVA.
Com a expansão da pousada, ela tomou novo empréstimo e adquiriu, recentemente, um gerador ainda mais potente, de 200 kVA, e que custou R$ 70 mil. A pousada fica no distrito de Peroba, em Maragogi. Trata-se da última unidade consumidora ao Norte do Estado, bem na divisa de Alagoas com Pernambuco.
A localização – na ponta da rede – faz com que o estabelecimento hoteleiro sofra ainda mais com a instabilidade do sistema de energia elétrica. “Ao construir a pousada, a gente achava que não precisava de gerador, mas percebemos que durante os feriados prolongados, quando a cidade lota de turistas, começava a faltar energia. Aí, vinham as reclamações, as desistências e os prejuízos. Por isso, decidimos tomar os empréstimos e comprar os geradores”, justificou Tarsilla.
Por mês, a pousada chega a gastar R$ 600 só na compra de diesel para gerar energia elétrica, a exemplo do que ocorreu em junho. “No mês passado, usamos bastante o gerador porque faltou energia várias vezes”, revelou.
O que o gerador não resolve é a oscilação de tensão da rede. Por causa disso, a pousada acumula prejuízos com a queima de eletroeletrônicos, a exemplo de aparelhos áudio e vídeo, além de condicionadores de ar danificados.
Uma das mais tradicionais pousadas de Maragogi, construída ainda na década de 1990, tem gerador desde a sua fundação. No dia 18 de julho, porém, a direção do estabelecimento hoteleiro, localizado em Peroba, foi pega de surpresa.
Ao perceber a falta de energia, o eletricista da pousada correu para ligar o equipamento a diesel, manualmente. É que o gerador não foi acionado automaticamente, como o previsto, porque apresentou defeito na chave de acionamento.
Depois de várias tentativas em vão, o jeito foi pedir a compreensão dos hóspedes. A pousada estava lotada e sem energia elétrica.
“Ficamos sem energia das 5h às 11h. Tivemos de sair de quarto em quarto explicando a situação aos nossos clientes”, revelou o proprietário, Luiz Cláudio Gonçalves, o “Lula”. Mas não são apenas os hoteleiros que sofrem com a instabilidade do sistema da Eletrobras. O consumidor residencial também padece com as quedas de energia.
“Hoje mesmo (sexta-feira, 17) faltou energia das 7h às 11h. E, quando falta energia, falta água também, porque o sistema de abastecimento de Peroba é todo através de bombas elétricas”, revelou o militar da reserva Romildo Francisco, morador do distrito de Peroba.
“Quando falta energia, a agonia é grande. A gente fica com medo de perder a mercadoria e não pode nem abrir o freezer muitas vezes, pra não descongelar tudo rapidamente”, acrescenta o comerciante Raul Cedrin, dono de uma peixaria, no mesmo distrito.
Investimentos

A Eletrobras Distribuição Alagoas informou que as obras de construção da subestação de Paripueira estão previstas para começar até o primeiro semestre de 2016, com previsão de conclusão em 2017.
De acordo com concessionária, o projeto executivo da subestação já está pronto; as licenças ambientais, autorizadas e a compra dos equipamentos para a montagem, em andamento.
O empreendimento, orçado em aproximadamente R$ 7 milhões, beneficiará a população de municípios como Paripueira, Barra de Santo Antônio e de bairros localizados ao Norte da capital alagoana, de Jacarecica a Ipioca.
A Eletrobras garantiu que o equipamento irá, ainda, melhorar a confiabilidade do sistema elétrico da região Norte do Estado.
Já a construção da linha de distribuição de alta tensão será executada paralelamente às obras da subestação de Paripueira e seguirá o mesmo calendário, informou a Eletrobras, acrescentando que a rede trará mais uma opção para distribuir energia aos municípios do Litoral Norte.
isso é Alagoas, o estado mais atrasado do país
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Os políticos e empresários do turismo em Alagoas deveriam visitar o Ceará para ver o que é infraestrutura. Estão a anos luz de Alagoas, cujas belezas naturais são ofuscadas pelas mazelas do estado. Poderiam ao menos passar a concessão da energia da Costa Dourada para Pernambuco, que tem muito mais competência para administrar. Olha se isso acontece em Porto de Galinhas, cujo fluxo de visitantes é muito maior.
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