
Desde o domingo (28), venho recebendo diversas ligações telefônicas e mensagens de amigos distantes, inclusive jornalistas, querendo saber sobre a veracidade de um tubarão-martelo capturado em Maragogi, aqui no Litoral Norte de Alagoas.
Assim como eu, eles receberam vídeos através do WatsApp que apresentam um colossal tubarão-martelo com aproximadamente três metros de comprimento.
Nos vídeos que circulam pelas redes, especialmente em um deles, o narrador afirma: “Olha, pego aqui em Maragogi”! No Facebook, postagens também relatam que o predador foi capturado na PRAIA de Maragogi. Não é verdade!
Ao afirmar que o tubarão foi capturado na PRAIA de Maragogi, passa-se a (des) informação de que o animal foi pego na costa marítima, frequentada por turistas de várias partes do Brasil e do mundo.
Maragogi é o segundo maior polo hoteleiro de Alagoas. Só perde para a capital Maceió em número de leitos disponíveis. O turismo, então, é a principal atividade econômica do lugar. E é justamente isso que está em jogo.
Quem, em sã consciência, vem se hospedar e banhar-se num lugar habitado por perigosos e vorazes tubarões?
As redes sociais têm sido uma ferramenta muito importante em nossos dias, mas, também, há inúmeros exemplos de mau uso, que já resultou em tragédias, como linchamentos, suicídios, ataques à honra, dentre outros.
Conscientemente ou não, o ataque aqui é contra o turismo de Maragogi, que sangra.
Curiosamente, naquele domingo, eu acabara de postar uma matéria na GazetaWebMaragogi.com revelando que golfinhos são “os novos habitantes da Costa dos Corais” ( http://gazetawebmaragogi.com/destaques/golfinhos-sao-os-novos-habitantes-da-apa-costa-dos-corais ).
Esses dóceis mamíferos surgem geralmente no inverno e acompanham as embarcações que se deslocam às piscinas naturais de Maragogi, para o deleite dos turistas.
Ao sair para comprar água naquela tarde de domingo, me deparei com uma grande confusão na praia urbana da cidade. Era o tubarão-martelo capturado pelos pescadores.
Entrevistei o responsável pela façanha: Geovane Severino da Silva, 36 anos. Ele afirmou, categoricamente, que o animal foi pego a quilômetros de distância da costa.
“Quando a gente pegou, ele já estava morto, em alto-mar, muito distante daqui”, disse Geovane, que capturava camarão com outros pescadores, quando se deparou com o bicho.

Estou em Maragogi há 12 anos, onde desempenho a função de repórter, e nunca ouvi relatos de ataques de tubarões a banhistas ou de captura desses animais próxima à costa.
Conversei com pescadores experientes que também negam o fato. Os que se arriscam nessas pescarias, atuam em águas oceânicas profundas, a quilômetros do belo e protegido litoral, graças à extensa barreia de arrecifes, que a tudo guarda e transforma em piscina natural.
Para a Gazeta de Alagoas, noticiei a captura do tubarão-martelo na edição desta terça-feira (30). Entrevistei o analista ambiental do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), Iran Normande.
Ele disse que não há motivo para pânico e que o animal foi capturado em seu habitat, ou seja, em alto-mar, onde outras espécies de predadores vorazes também habitam.
“O tubarão foi encontrado no ambiente dele, então, é comum a ocorrência desta espécie e de outras em alto-mar. Não há motivo para pânico, mesmo porque em um ambiente equilibrado, o tubarão não vai atacar humanos, sobretudo em regiões costeiras”, observou Normande.
Por essas e outras é que prefiro ficar com as imagens dos graciosos golfinhos e fugir dos tubarões que nos rodeiam pelas redes sociais. Esses, sim, podem fazer grandes estragos!