
Alagoas é plural. Entendi isso ao viajar, nas férias de junho, ao Sertão de nossa terra, diversa em cenários, biomas, belezas naturais. Disposto a conhecer um pouco mais de nosso Estado, segui o Rio São Francisco em direção a Piranhas, a “Cidade Lapinha”, com seu casario multicolorido e preservado.
A joia do Sertão alagoano fica a 280 quilômetros de Maceió. Foi tombada em 2003 pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan); possui aproximadamente 25 mil habitantes.
A amiga jornalista Shirley Nascimento, ao perceber pelas redes sociais que eu ali estava, logo tratou de me preparar para os encantos de Piranhas. “Curtam muito, é a cidade mais preparada de Alagoas para receber turistas, na minha opinião”, comentou.
E Piranhas me surpreendeu. E que grata surpresa! O turismo se desenvolve ali de forma regionalizada, integrando os Estados de Alagoas, Sergipe e Bahia. A linha, ou melhor, a corda-mestra, robusta, que faz essa amarração toda é o Rio São Francisco. Não à toa é chamado de “O Rio da Integração Nacional”.
A história do cangaço está viva no museu da cidade e na oralidade de sua gente. Durante o dia ou à noite, há boas opções de restaurantes e bares no bem cuidado Centro Histórico. O menu vai de massas à comida japonesa. Um restaurante em especial vale a visita: o Flor de Cactus, localizado num dos mirantes da cidade. Ali come-se com os olhos.
Pedra do Sino

Em Piranhas, fiquei hospedado no Pedra do Sino Hotel. O lugar, com ares de pousada, é um achado, dica do primo Rafael Carvalho, que por ali esteve recarregando as energias. O estabelecimento foi primorosamente construído no alto de onde se tem uma visão magnífica do Velho Chico, que corre sem pressa, lá embaixo.
São 23 apartamentos e uma suíte máster. Administrada pelo atencioso casal Eliane e Clemente, o requintado hotel nada deixa a desejar às chamadas pousadas de charme da Costa dos Corais alagoana, em termos de estrutura. E o melhor: as diárias são bem acessíveis, variam de R$ 170 a R$ 380.
A suíte máster é filha única e por isso muito desejada. A banheira com hidromassagem fica voltada para Rio São Francisco, de onde se tem uma visão panorâmica do vale com suas formações rochosas, em meio à caatinga verdejante. Nesta época do ano, até uma pequena cachoeira se forma do lado esquerdo do paredão. É possível, da varanda, ouvir o som das águas.

O Pedra do Sino Hotel foi fundado em 18 de outubro de 2010 e recebeu esta denominação em referência à região da Pedra do Sino, formações rochosas que lembram o formato do instrumento cônico. Localiza-se a 50 metros do Mirante Secular, no bairro do Centro Histórico.
Passeios
Na pousada, contratei dois passeios: a Rota do Cangaço (R$ 40 por pessoa) e Cânions do São Francisco (R$ 70), um a cada dia. Para o primeiro, saímos por volta das 8h30 em direção ao embarcadouro de onde partimos de catamarã rumo ao Cangaço Eco Parque, um receptivo turístico com boa estrutura montado à margem do Rio São Francisco, no município sergipano de Poço Redondo.
Trajado de cangaceiro, quem nos recebe é o guia Cícero Rogério Oliveira. Alagoano de Piranhas, morador do povoado Entremontes, Cícero conta com desenvoltura a saga de Lampião e Maria Bonita. Suas feições lembram os traços e o biotipo dos cangaceiros da época.
“As pessoas me perguntam se eu gosto do que faço. Eu respondo que amo!” E ama mesmo.

Cícero conta que a trilha a ser vencida foi o caminho feito pelo bando de Lampião. A rota tradicional é realizada seguindo o trajeto das volantes até a Grota do Angico, onde “Rei do Cangaço” e parte do bando foram mortos pela volante do tenente José Rufino.
Até lá é preciso caminhar 1,7 km por dentro da caatinga, sobre pedregulhos de um riacho seco, espantar as mutucas (um tipo de mosca que se alimenta de sangue), vencer alguns trechos íngremes… Ou o leitor acha que o homem mais procurado do Brasil durante a Primeira República se esconderia em local de fácil acesso?
Como se diz no Sertão: “Rapadura é doce, mas não é mole, não”. E o esforço vale a pena. Ao chegar à Grota de Angicos, Cícero Rogério começa a narrar os últimos momentos vividos pelo bando de Lampião. É como voltar no tempo: aquela figura com traços de cangaceiro, o rifle na mão a disparar informações e detalhes da horrenda emboscada, nos faz arrepiar.

A volta é caminho mais maneiro, mais curto, como reza a lenda. A nos esperar – sobre a mesa posta de fronte ao Rio São Francisco – um bom prato de Surubim, peixe típico do Velho Chico; carne tenra e saborosa.
Cânion

O dia seguinte foi dedicado ao passeio aos cânions do São Francisco. O dia amanheceu chuvoso e por pouco não desisti. Confesso que só tomei coragem após o incentivo de seu Clemente, o dono do hotel Pedra do Sino, funcionário aposentado da Companhia Hidro Elétrica do São Francisco.
“Aqui na região é assim: começa a chover, mas logo a chuva passa. Se você gostou do passeio da Rota do Cangaço, vai gostar ainda mais do passeio pelos cânions”, incentivou Clemente.
Seguimos de carro, durante 15 minutos, até Canindé do São Francisco (SE), onde fica o receptivo e restaurante Karrancas.
Foi lá que embarcamos num grande catamarã em direção à Gruta do Talhado. A embarcação fica ancorada no dique da barragem da Usina Hidroelétrica de Xingó, construída na década de 1970, e que deu origem ao 5º maior cânion navegável do mundo.
No trajeto, vão se descortinando as formações rochosas, impressionantes. São paredões e mais paredões que se erguem colossais. Diariamente, cerca de 1,5 mil turistas fazem esse passeio, que tem duração de 3 horas. Nosso ponto de parada é o “Porto de Brogodó”, referência à novela “Cordel Encantado”, da Rede Globo, exibida em 2011.
Parte da primeira fase do folhetim eletrônico foi gravada ali, contando a história de amor entre Jesuíno, interpretado pelo ator Cauã Reymond, e Açucena, vivida por Bianca Bin.

A parada é para um banho refrescante numa área sinalizada e protegida por telas. Vale agarrar-se a flutuadores (macarrões) e ficar de papo pro ar: curtindo a paisagem. Vale também desembolsar mais R$ 5, além dos R$ 70 iniciais, para ingressar numa canoa e flanar dentro de uma gruta alagada, onde a beleza se reverbera em ecos.
Serviço
Pedra do Sino Hotel (Piranhas/AL)
Fone: (82) 3686-1365 | (82) 9930-1626
Contato: atendimento@pedradosinohotel.com.br
Amigo Severino , parabéns pela reportagem. Lembrando também que temos esse passeio saindo de Maceió , toda quarta e sábado para quem deseja ir e retornar no mesmo dia.
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Terra linda a nossa, não é!. Parabéns pela reportagem e sempre que puder mostre Alagoas da maneira que ela precisa ser mostrada.
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Severino, que bom ler suas impressões sobre a terrinha na qual meu berço está inserido. Quero contribuir um pouco com sua narração quanto a construção da Usina de Xingó. Os estudos sobre ela começaram sim, na década de 70. No início/primeira metade dos anos 80, iniciou a construção e já na década de 90 começamos a usufruir dos primeiros “watts” produzidos pela hidrelétrica. Abração e parabéns.
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Fui com minha familha com destino a recife e pelo caminhos mi deparei com um cidade as beira do Rio São Francisco que mi encantou e resolvei para e explorar nossa que rio lindo com passeio de catanara gostoso com musica da região nordestina e muita cultura vale apena conhecer
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