Finalizando a série de postagens sobre o turismo de base comunitária, aqui vai a última parte da reportagem especial produzida para o jornal Gazeta de Alagoas. Boa leitura!

Em meio a pousadas requintadas, cuja diária ultrapassa a cifra dos mil reais, se desenvolve o turismo de base comunitária no plácido e belo Litoral Norte de Alagoas. Numa perfeita simbiose entre homem e animal, os ribeirinhos de Porto de Pedras e São Miguel dos Milagres se utilizam da presença de um bicho rechonchudo e de aparência meiga para lucrar com atividades que vão do turismo de observação ao artesanato, tudo focado na figura do peixe-boi marinho.
A atividade econômica regrada, por outro lado, favorece a preservação do mamífero aquático mais ameaçado de extinção no Brasil. Na APA Costa dos Corais, a espécie encontrou o seu refúgio. Foi no estuário do Rio Tatuamunha, em Porto de Pedras, que o Centro Nacional de Pesquisa e Conservação de Mamíferos Aquáticos (CMA), vinculado ao Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), instalou o recinto de readaptação do Projeto Peixe-Boi Marinho, em 2008.
Com 30 anos de atuação nas áreas de resgate e reabilitação de filhotes órfãos o projeto tem, desde 1994, realizado a reintrodução e o monitoramento desses animais. Mas a presença dos bichos reintroduzidos no litoral alagoano não foi nada amistosa de início. Os pescadores foram impedidos de pescar nas áreas de ocorrência. Quem insistia, tinha as redes rasgadas pelos animais que chegam a pesar 500 kg e a medir quatro metros. Em retaliação, os ribeirinhos chegavam a espancar o bicho indefeso.
A maré começou a virar quando os moradores passaram a perceber o fascínio que o peixe-boi despertava nos turistas das pousadas instaladas nos dois municípios. Iniciou-se a atividade do turismo em torno do animal, mas de forma desorganizada.
O ICMBIO e o CMA tomaram as rédeas da situação e, através do Ministério Público Federal e Estadual, foi proposto um Temo de Ajustamento de Conduta (TAC) que ordenou a atividade. Os ribeirinhos, então, criaram, em 2009, a Associação Peixe-Boi, que hoje agrega 48 associados – capacitados e credenciados pelo ICMBio. Transformados em condutores e remadores, eles encontraram uma farta fonte de renda, sem deixar suas atividades tradicionais: a pesca e a agricultura.

“O turismo de observação do peixe-boi, tirando as pousadas, é o maior gerador de renda nos dois municípios. Muitas pessoas trabalham no turismo de observação e outras conseguem tirar uma renda indiretamente, trabalhando com o artesanato, como ambulante”, disse a bióloga e condutora Flávia Rêgo.
A associação possui sede instalada no povoado de Tatuamunha, em Porto de Pedras. Ali, são oferecidos até 10 passeios diários de jangada a remo pelo Rio Tatuamunha até o recinto de reintrodução do peixe-boi. São 70 pessoas por dia que embarcam na aventura, com direito à trilha suspensa pelo basto manguezal, ao preço de R$ 40 por ingresso.
“Antes, a gente recebia o público da pousada. Isso ainda acontece muito, mas as pessoas passaram a se hospedar só para ver o peixe-boi”, comemora Flávia.
Vendas

Procedente de Cuiabá (MT), o casal Antônio e Sirlene Moraes foge do turismo de massa. Hospedados em Maceió, eles correm dos pacotes triviais e caros oferecidos pelas agências e rumaram em direção a Porto de Pedras em carro locado.
Lá, o passeio foi realizado sob a supervisão de Flávia Rêgo. Dois remadores conduziram a jangada até o recinto, onde o casal pôde observar o hibernar de “Telinha”, uma fêmea de três metros e 320kg.
“Ao lado do turismo comunitário, nós falamos de polícia comunitária, de medicina comunitária, então esse é o caminho para o País. O cidadão passa a ser inserido na comunidade, a ser responsável também, aí você consegue respostas melhores. Voltarei várias vezes e trarei meus amigos”, disse Antônio, militar aposentado e sub-secretário de Defesa Social.
Ao fim do passeio, o casal pôde se refrescar com a água de coco vendida pelo pescador e relojoeiro de nome exótico: Jenne Cliff. Durante as manhãs, ele é vendedor e, à tarde, ajusta dos ponteiros e sai para pescar. Puderam também adquirir um souvenir em formato de… Peixe-boi!

Os bichinhos de pelúcia são confeccionados na oficina Peixe-Boi e Arte da artesã Maria José dos Santos. Ela deixou a profissão de governanta num hotel para se transformar em microempreendedora. Produz 500 unidades mensais que custam entre R$ 12 e R$ 100, a peça.
“O peixe-boi é minha fonte de inspiração e de renda. Esse bicho de pelúcia é mais do que uma lembrança é uma forma de preservar o animal”, declarou ela, que conta com o apoio do Instituto Yandê (ONG).
Parabéns Severino Carvalho, você como sempre se antecipando e enxergando o que poucos enxergam. O turismo comunitário é uma realidade, uma das formas de se fazer turismo verdadeiramente sustentável!
Plínio
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Meu agradecimento especial a você, professor Plínio Guimarães, pela sugestão da pauta e a colaboração para a construção da reportagem. Parabéns pela iniciativa do seminário e pelas pesquisas acadêmicas em prol do turismo de base comunitária!
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Valeu Severino, obrigado! Vamos manter a parceria!
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Parabéns! Amei muito a sua reportagem, com ela, você fez divulgação do Paraíso que é São Miguel dos Milagres, pois poucas pessoas conhece esse lugar maravilhoso, aonde eu adotei de coração ao vir morar aqui. Valeu mesmo!!! Muito sucesso nas próximas edições!!!!!
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