
O que existe em comum entre o complexo de favelas do Alemão, no Rio de Janeiro, um assentamento da reforma agrária em Barreiros, Pernambuco, e uma comunidade ribeirinha do Litoral Norte de Alagoas? Nessas três localidades – assim como em centenas de outras polvilhadas de Norte a Sul do Brasil – viceja um novo eixo de atividade econômica: o turismo de base comunitária.
Nele, se destacam os arranjos produtivos que valorizam a identidade cultural, a conservação do meio ambiente e o controle produtivo nas mãos das famílias residentes, sejam de pescadores, ribeirinhos, pantaneiros ou de índios.
O assunto foi amplamente debatido durante o 1º Encontro de Comunidades Empreendedoras do Turismo de Base Comunitária (Encetuc), promovido pelo Instituto Federal de Pernambuco (IFPE), campus Barreiros.
Especialista na questão, a professora da Universidade Estadual do Ceará, Luzia Neide Coriolano, diz que o turismo comunitário surgiu como uma resistência à atividade turística convencional, uma forma que as periferias encontram para participar da cadeia produtiva.
“À medida que crescem as grandes empresas, que cresce a globalização, crescem também os pequenos negócios, os pequenos empreendimentos. E aqueles grupos que não são contemplados pelo turismo convencional – das redes hoteleiras – que vêm de cima pra baixo – essas comunidades descobrem outras formas de se fazer turismo. Elas não podem participar entrando por cima, pelo circuito superior, então entram pelo circuito inferior da economia do turismo”, explica a doutora em geografia e turismo.
Na prática, foi o que aconteceu com Cléber de Araújo Santos, 36 anos, morador do Morro do Alemão, no Rio de Janeiro (RJ). Ex-líder de manutenção de uma grande empresa que cuidava da frota de veículos do governo do Estado, ele largou o emprego estável para se tornar o senhor de suas próprias engrenagens. Montou uma empresa de receptivo turístico dentro complexo formado por um conjunto de treze favelas que, somadas, possuem uma população de mais de 65 mil habitantes.
Hoje, ele fatura bem e ainda socializa os ganhos dentro da favela, fazendo girar o carrossel da economia solidária. “Abri mão do emprego e meu coordenador quase enlouqueceu. Só o meu vale-alimentação era de R$ 700. Minha esposa entrou em depressão, não aceitava de forma nenhuma; depois entendeu, viu que deu certo. Hoje mesmo, recebemos 70 alunos de uma universidade do México”, confessou Cléber Araújo.
“Amanhã, tem mais 70 estudantes da Guatemala. Temos outros 12 grupos agendados para a Copa do Mundo com contrato assinado e tudo. Já temos um grupo de 107 espanhóis para fevereiro. Eles vão investir US$ 30 mil dólares num projeto dentro da favela. Esse dinheiro não vem para a nossa empresa, vai ser gasto na comunidade. Vamos receber apenas pelo tour”, completou Araújo, um dos palestrantes do Encetuc.
Araújo atua também como artesão. Confecciona replicas dos barracos da favela, denominadas, satiricamente, de Minha Casa, Minha Vida, em alusão ao programa de habitação popular do governo federal. “É o item que a gente mais vende. São vendidas a R$ 15 e quem mais compra são os europeus”, contou, com largo sorriso de satisfação.
Nas próximas postagens, retomaremos o assunto “Turismo de Base Comunitária”, tema de reportagem especial publicada recentemente na Gazeta de Alagoas e assinada por este jornalista.
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