O pequeno Gustavo Gomes da Silva Lopes, 10 anos, luta contra um câncer de pulmão desde o seu segundo ano de vida. O braço paralisado e uma cicatriz no tórax são as sequelas aparentes que seu corpo franzino carrega. Apesar do esmorecimento causado pela doença, o menino não para de sonhar. 

Natural de Ouro Preto do Oeste, Rondônia, ele já passou por três cirurgias no Hospital das Clínicas, em São Paulo. Foi lá onde escreveu uma carta para a Fada Blue, personagem de uma ONG fundada com a finalidade de realizar sonhos de pacientes em fase paliativa ou em tratamento contra o câncer. 

À Fada dos Sonhos, “Guga” revelou o desejo de conhecer a terra natal da avó: Alagoas. Seu sonho? Mergulhar nas piscinas naturais de Maragogi. Coube à enfermeira e guia de turismo Priscila Keli, a missão de atender ao pedido, o de número 200. Ela encarna a fada Blue, que com sua varinha espalha amor e boa vontade.

“As pessoas querem que o paciente faleça dentro do hospital, mas não é isso que o paciente quer. Ele quer continuar a viver, fazer coisas que não fez”, conta a fada-enfermeira, revelando que a expectativa de vida de pacientes em fase terminal cresce até 70% com o tratamento dos sonhos. 

“Uma expectativa de vida de uma semana, a gente conseguiu ampliar para sete meses depois de um sonho realizado”, contou a fada, que para trazer Guga a Maragogi contou com a colaboração do resort Salinas, que arcou com as despesas de hospedagem e alimentação, além do passeio e do mergulho nas piscinas naturais.

Acompanhado da mãe, Ines Gomes da Silva, e da fada, Guga embarcou numa lancha em direção às Galés de Maragogi, na manhã de terça-feira, 22 de outubro. O mergulho foi supervisionado pelo instrutor Ivam Merino, da Explorer Diving Adventure, operadora que presta serviço ao Salinas. 

“É um prazer muito grande fazer isso, é muito emocionante”, confessou Merino. Guga misturava ansiedade e medo, mas aos poucos, foi se soltando. “É o meu terceiro banho de mar. Espero encontrar muitos peixes e algas também”, disse, timidamente, mas sempre com um sorriso. 

A mãe conta que a fada realizou não um, mas dois sonhos. Ines também não conhecia a terra natal da mãe e nunca havia mergulhado. Artesã, ela falava das dificuldades para trabalhar, tendo de se dedicar exclusivamente ao filho, em tratamento.

“Na verdade, eu fiquei quase o ano inteiro em São Paulo e apenas dois meses em casa. Para a gente se manter é complicado. A profissão é mais mãe do que tudo; quando dá, eu trabalho”, revelou Ines.

Após receber as instruções, Guga caiu na água como um peixe. Por cerca de 30 minutos, esqueceu o braço que o incomodava, as paredes brancas do hospital, o câncer. Mergulhou num mundo fantástico que ele só conhecia nos programas de televisão.

“Foi bom, foi dez. Não é como no hospital, aqui foi melhor, foi mil”, contou Guga, que abraçou a fada, desmanchada em lágrimas. “Vê uma criança feliz, sorrindo, isso não tem preço; me sinto realizada”, disse a fada, de carne e ossos.