Maragogi, 138 anos de uma bela história

Durante desfile, estudantes fizeram representação das piscinas naturais, principal atrativo turístico ( Foto: Severino Carvalho)
Durante desfile, estudantes fizeram representação das piscinas naturais, principal atrativo turístico ( Foto: Severino Carvalho)

Maragogi completa, nesta quarta-feira, 138 anos de emancipação política. Encravado no extremo Litoral Norte do Estado foi uma das primeiras povoações a se formar em Alagoas; pertencia a Porto Calvo, freguesia mais antiga. Palco da Guerra dos Cabanos (1832 e 1835), capítulo importante da História do Brasil, a cidadezinha que nasceu a partir de uma vila de pescadores desponta hoje no cenário turístico nacional. Dono de um litoral que não deixa nada a desejar ao Caribe, é o hoje o segundo maior polo hoteleiro de Alagoas. Mas, o balneário não se resume apenas às belezas costeiras: é detentor de uma vasta zona rural onde está fixada umas das maiores áreas da reforma agrária do Brasil.

Para falar da formação de Maragogi, ninguém melhor do que o antropólogo e historiador, Dirceu Acioly Lindoso, de 81 anos, filho da terra. Segundo ele, a primeira designação do lugar foi “Gamela da Barra”, em função das excelentes características da costa que favoreciam o entrar e sair das embarcações abarrotadas de mercadorias, sobretudo o açúcar. “O Gamela significa ‘baía que há no mar’”, destacou.

A primeira povoação formou-se ao Norte, onde hoje se encontra o distrito de Barra Grande, morada de um dos líderes da Guerra dos Cabanos, João Batista de Araújo. Ao Sul, surgiu São Bento de Porto Calvo, em alusão à sede da freguesia. Hoje, São Bento é o maior e mais populoso distrito de Maragogi. É lá onde se concentra a produção do bolo de goma e a pesca do marisco; lugar onde a religiosidade se fez raiz, representada nas ruínas do Mosteiro de São Bento, lugar de visitação turística.

De São Bento e da região onde hoje existe o município de Porto de Pedras vieram os primeiros habitantes da área onde hoje está fincado o centro da cidade, conta Lindoso. “Na época da Guerra dos Cabanos, Maragogi possuía apenas alguns palhoças”, revelou. A segunda designação foi um agrado ao imperador Dom Pedro II quando visitava a região. O lugar passou a se chamar Vila Isabel, em homenagem à filha do soberano.

Por fim, Vila Isabel tornou-se Maragogi. Foi elevada à categoria de cidade em 24 de abril de 1875. A nova designação surgiu em referência ao principal rio que corta o município. “O pessoal inventa muita coisa, mas a verdade é que Maragogi surgiu em razão do rio, que significa Rio dos Maruins na língua indígena”, disse Lindoso.

Passado e presente

Lindoso mostra moeda encontrada em botija (Arquivo: Severino Carvalho)Quando decidiu construir a Avenida Senador Rui Palmeira, a então prefeita de Maragogi, Maria do Livramento Paes de Oliveira, 65 anos, a “Livinha” (1977 a 1983), encontrou resistência da população. Afinal, ali era o quintal das poucas casas que existiam no centro da cidade. Hoje, o fundo dos imóveis é a Orla Marítima, importante e mais movimentado passeio público da cidade.

“A área era um depósito de lixo das casas. Passamos mais de 30 dias para remover os entulhos. Dei o pontapé para o que é hoje Maragogi”, diz orgulhosa, Livinha, lembrando que a orla foi construída em parceria com o Projeto Rondon. João Cavalcante de Lyra, 83, também foi prefeito do município por nove anos, em mandatos cumpridos nas décadas de 1970 e 1980.

“Quando era menino, lembro que a maioria das casas era coberta por palhas de coqueiro. Só existiam dois casarões, dois sobrados, dos fazendeiros Arthur Sena e de doutor Sales”, recordou, revelando que Maragogi foi a última cidade alagoana a ser eletrificada. A Maragogi do passado se revelou na contemporaneidade quando da aparição de duas botijas em 2004, durante as obras para instalação da rede de saneamento.

O achado da época do Brasil Reino Unido (1800), atraiu a curiosidade de turistas e nativos. Hoje, os patacões com alusão a D. João VI que restaram dormitam no cofre da prefeitura, longe do olhar de todos. “Maragogi era uma região onde existiam muitos comerciantes. Como não havia banco e o centro era Porto Calvo, essas pessoas tinham o hábito de esconder suas economias, enterradas”, explicou o antropólogo e historiador Dirceu Lindoso.

Em 2010, mais um achado deixou o município em polvorosa. Uma mina aquática de flutuação foi encontrada sob o calçamento da Avenida Rui Palmeira, novamente durante uma obra, desta feita de revitalização da Orla Marítima.
O artefato da 2ª Guerra Mundial foi retirado e explodido pela Polícia Militar de Alagoas.

“Eu vi quando os americanos resgataram aquela mina presa nos arrecifes e a trouxeram para a terra. Tiraram as espoletas e a enterraram no Beco da Estefânia. Era provavelmente um artefato americano usado contra os submarinos alemães durante a Segunda Guerra Mundial”, contou Lindoso.

Turismo

“Maravilhoso! Fomos conhecer as praias, são muito lindas. A cor da água é impressionante, as piscinas naturais, adentrar o mar e andar bastante, é muito legal”. A declaração entusiasmada é da turista mineira Alessandra Junqueira Franco, após um passeio de buggy pela costa de Maragogi.

Dono de uma rede hoteleira estruturada, o município é considerado a capital da Costa dos Corais alagoana e atrai, cada vez mais, turistas de várias partes do Brasil e do mundo. Ganhou reconhecimento do Ministério do Turismo e passou a integrar um dos 65 destinos indutores da atividade no País, para onde serão carreados investimentos. Para o economista Cícero Péricles de Carvalho, o turismo é a atividade mais dinâmica de Maragogi. A agricultura tradicional, da cana-de-açúcar e da pecuária, perde peso e significância.

“O turismo é uma importante alternativa para uma localidade com um litoral privilegiado, uma história antiga cheia de lances emocionantes, uma natureza privilegiada na sua parte rural e uma cultura muito própria, com um patrimônio significativo e gastronomia diferenciada. Por tudo isso, essa atividade tende a se afirmar e ter uma presença cada vez mais significativa na economia local”, destacou Péricles.

Programação

Para celebrar os 138 anos de Maragogi, a prefeitura montou uma programação especial que começou às 5 horas. O espocar de fogos de artifício recebeu o dia de forma festiva. Às 9 horas, teve início o desfile das escolas municipais que contou com a participação de bandas fanfarras de Japaratinga e Barreiros (PE).

Em frente à prefeitura, houve o hasteamento das bandeiras e o discurso das autoridades políticas do município. À noite, estão previstos shows musicais, a partir das 21 horas. Se apresentam na Praça de Eventos, orla marítima, os cantores Wellington Maragogi e Cleide Rivas. A festa encerra-se com a apresentação da banda Aviões do Forró.

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Um comentário sobre “Maragogi, 138 anos de uma bela história

  1. Severino Cassiano Ferreira

    Exceleente reportagem sobre os 138 anos de Maragogi.Os informes históricos do grande pesquisador Dirceu Lindoso, foram ótimos. O então Prefeito José Cassiano Ferreira, colaborou tb para modernizar este Município;por exemplo,o atual Foro, antes era uma moderna Escola Municipal. Dirceu Lindoso, sempre admiro a sua atuação literária, além de ser filho do meu padrinho de Crisma,Melchíades Lindoso, de saudosa memória.Parabéns,Severino Carvalho, por mais esta reportagem!

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